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Este blogue destina-se a expor os trabalhos que vamos realizar até ao final do ano para a disciplina de Projecto. O nosso tema é o cinema português, em particular a baixa adesão ao cinema nacional. Obrigada por nos visitarem!

"Produtores, realizadores e o futuro"





"Alexandre Valente

Realizador e produtor?(Utopia Filmes)

"O financiamento do ICA deve ter menos burocracia e apoiar os realizadores de eminente interesse cultural e social, como Manoel de Oliveira, Pedro Costa, João Canijo e Marco Martins. Mas dessa mesma fatia há que arriscar nos jovens talentos. É preciso criar mecanismos de apoio mecenático, impor taxas e quotas mínimas de mercado a todos os agentes e ainda redesenhar o ICA no sentido de ser também uma espécie de agência capaz de analisar e apoiar novos projectos de novos realizadores."

António-Pedro Vasconcelos

Realizador

"O modelo do FICA está mal concebido, como, de resto, o próprio ICA. Ambos têm de ser revistos no quadro de uma revisão global da política do cinema. Meter no FICA distribuidores e televisões generalistas é um absurdo, porque eles vão, necessariamente, defender os seus interesses directos nos projectos. Por outro lado, dizer que o FICA é para o chamado "cinema comercial" e o ICA é para o "cinema de autor" é um disparate total. O FICA acaba por penalizar os produtores e o ICA por os desresponsabilizar, o que é dar maus sinais ao mercado que se pretende criar! É preciso que toda a cadeia de valor envolvida na comercialização dos filmes seja obrigada a investir uma parte - 4%, 5%, o que for - do seu volume de negócios em novos filmes."

Leonel Vieira

Realizador e produtor (Stopline)

"Uma das prioridades é fazer cumprir a lei que existe. Não é preciso pedir o mundo: as coisas já melhorariam brutalmente se a lei fosse cumprida. As obrigações das operadoras televisivas, de cabo e de sinal aberto, em relação à produção nacional não são cumpridas; os calendários do financiamento do ICA sofrem atrasos constantes, e, em relação ao FICA, mesmo os que estavam comprometidos a financiar não o fizeram, e o Estado foi o primeiro a não cumprir."

Luís Urbano

Produtor (O Som e a Fúria)

"É urgente reforçar os meios financeiros, através do reforço do papel do ICA, que não pode continuar dependente das danças de cadeiras ministeriais. É fundamental que o ICA tenha mais autonomia para definir uma política e dar sinais ao meio sobre o que é mais importante. Numa perspectiva mais prática, é importante reforçar o papel das televisões, redefinindo o seu papel no serviço público."

Maria João Mayer

Produtora (Filmes do Tejo)

"A mudança fundamental era haver mais filmes apoiados. Acredito que seja lírico, mas a coisa tinha pelo menos que dobrar. Não há país nenhum em que só se façam seis longas por ano - nem em Marrocos, nem na Grécia."

António Ferreira

Realizador e produtor (ZEDFilmes)

"O ICA devia subsidiar o dobro dos filmes. Isso tornaria a produção mais dinâmica e diversificada. O que tem acontecido é o contrário. Quando o ICA dá 700 mil euros a um filme e só apoia dois, está a fazer uma má política, porque os filmes que apoia não precisam, sequer, de se relacionar com o público. Tal como está desenhado, o actual sistema de financiamento sustenta alguma preguiça e algum elitismo. Portugal é o único país do mundo onde não é grave um filme apoiado pelo Estado fazer dois espectadores."

Nuno Bernardo

Produtor (Be Active II)

"O FICA é um dos mecanismos necessários à criação de uma indústria do cinema e audiovisual, que só pode sobreviver com apoios estatais. É preciso também apostar nos créditos fiscais e num mecenato livre de burocracias - como em Espanha e na Inglaterra, por exemplo. E ainda estabelecer, se não quotas - é uma palavra errada -, um efectivo caderno de encargos na atribuição das licenças para novos canais no cabo."?

Pedro Borges

Produtor e distribuidor ?(Midas Filmes)

"Para que a produção possa funcionar a níveis razoáveis, é preciso que o ICA tenha fundos suficientes, e os actuais não só não vêm do Orçamento do Estado como, sobretudo, não estão garantidos. Esses fundos podem vir da própria actividade cinematográfica: das taxas sobre a distribuição, a edição DVD, a exibição - são milhões de euros que podiam, e deviam, ser canalizados para o cinema português. E as televisões, a pública e as privadas, deviam ter um caderno de encargos de obrigações de investimento no cinema - que é o que existe em todos os países europeus civilizados."

Tino Navarro

Produtor (MGN Filmes)

"É preciso que o cinema português restabeleça a relação com os espectadores. Temos de ter vários filmes por ano com capacidade para concorrer no mercado. Há dois ou três filmes por ano que têm resultados; tem de haver seis ou sete."

Rodrigo Areias

Realizador e produtor (Bando à Parte)

"Na ficção, falta diminuir o peso institucional do produtor e do realizador na ponderação dos projectos a concurso. Nas curtas há 130 pessoas a concorrer e 10 a receber. E nas primeiras obras, o rácio é ainda pior: dois financiamentos para 70 pessoas. O drama maior é que há cada vez mais gente qualificada a tentar fazer cinema e é cada vez mais difícil lá chegar, porque temos o financiamento tomado por pessoas que começaram a fazer cinema nos anos 60."

Depoimentos recolhidos por Inês Nadais e Sérgio C. Andrade"

Fonte: Público

"Verbas do ICA: quase sempre a descer "



"Há uma constante na leitura dos números relativos aos "Concursos de apoio financeiro à criação e produção cinematográfica" do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) na última década: o decréscimo sucessivo das verbas globais (longas e curtas-metragens, documentários e animação) desde o ano 2000, quando o total disponibilizado foi de 13.324.702 euros, quando para 2010 há disponíveis 9.223.022 euros. Houve uma subida relevante, logo em 2001, para mais de 15 milhões de euros, mas a partir daí foi praticamente sempre a descer, até aos 7.686.000 de 2007 (ver quadro na pág. 4)

Na análise mais detalhada que faz destes números, a Associação Portuguesa de Realizadores (APR), que a dada altura se queixou de que o Governo estava a envolver o sector com uma "asfixia gritante", nota que no apoio à produção de longas-metragens esse decréscimo foi praticamente de 50 por cento, entre 2001 e o corrente ano: de 9,5 para 4,8 milhões de euros; de 16 para oito longas-metragens.

Este declínio é resultado directo da quebra das receitas da taxa sobre a publicidade nas televisões e os bilhetes vendidos nos cinemas - que é de onde vem o dinheiro para o orçamento do ICA e para o apoio ao cinema -, mas é também o resultado, diz a APR, da retirada de verbas do PIDDAC (quase seis milhões em 2001; zero em 2010) e também da diminuição da comparticipação do OE (2,5 milhões em 2001; um milhão apenas, no corrente ano).

O presidente do ICA, José Pedro Ribeiro, confirma que, no essencial, a descida deve-se à quebra das receitas publicitárias e à diminuição progressiva das comparticipações do OE, que em 2006 foi mesmo extinta (com a excepção de uma verba suplementar atribuída no final de 2009, "para fazer face à crise de receitas"). Mas realça o esforço do ICA para, apesar de lidar com orçamentos "estreitos", fazer "uma adequação racional e justa dos montantes dos apoios às necessidades de cada projecto", o que tem permitido "manter o número de obras apoiadas em valores estáveis, em vários concursos". Segundo a informação disponível na página do ICA, realizar-se-ão este ano dois programas de apoio a longas-metragens de ficção (1,2 milhões de euros para cada), mais um para primeiras obras (1 milhão) e outro para apoio complementar (1,4 milhões). S.C.A."

Fonte: Público

Promessa de "uma nova era para o cinema e audiovisual em Portugal" já leva cinco anos de quase estagnação


"Todos são unânimes: o FICA está paralisado e assim não pode continuar. Mas se alguns vêem um problema endémico, outros esperam ainda dele um contributo

O Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual (FICA) foi criado em 2004 no consulado de Pedro Roseta, ministro da Cultura do governo social-democrata de Durão Barroso. Mas só em meados de 2007, era ministra a socialista (independente) Isabel Pires de Lima, o organismo foi efectivamente lançado, com a promessa de que se estava a inaugurar "uma nova era para o cinema e audiovisual em Portugal". O horizonte dessa promessa media-se num volume de 83 milhões de euros a distribuir por cinco anos (cerca de 16 milhões em cada) e reunidos pelas contribuições regulares das cinco entidades participantes - o Estado, através do IAPMEI, a Zon e os três canais de televisão generalistas, RTP, SIC e TVI.

Pouco mais de um ano passado, o FICA entrou em letargia, e assim tem permanecido até ao presente. Dos primeiros contratos assinados ou negociados com os produtores, apenas uma parte ínfima foi cumprida. Até ao momento, e mesmo se vamos já a meio do primeiro quinquénio, segundo os números disponibilizados pelo Ministério da Cultura (MC), os cinco fundadores apenas realizaram a subscrição de 17,3 milhões de euros. E o incumprimento começou pelo próprio Estado, que, até agora, só realizou um décimo (3,3 milhões de euros) do seu compromisso total, verba com que interveio no "investimento indirecto" em três empresas: a Utopia Filmes (produtora de Second Life), a Valentim de Carvalho Filmes (Amália e Uma Aventura na Casa Assombrada foram as suas produções mais notórias) e a produtora de TV e multiplataforma Be Active II (que se candidatou com um pacote que incluía a série da RTP1 Flatmates T2 para 3, Castigo Final, uma coprodução com o Brasil, e a série policial The Line/ The Weight, com Linda Hamilton como protagonista).

O "exemplo" do Estado parece ter sido seguido pela Zon e pelas televisões. "Isto é inaceitável. É o Governo a não cumprir aquilo que ele próprio legislou; e não é justo, para ninguém", protesta Tino Navarro, numa posição que é denominador comum de todos os produtores por nós ouvidos. Leonel Vieira, também realizador (A Selva), constata que "a regulamentação dos financiamentos não tem sido muito bem tratada pelos políticos, ao contrário do que acontece em Espanha, França ou mesmo no Brasil e na Argentina".

Aparentemente, o atraso na realização da subscrição do Governo ficou a dever-se a um diferendo com a ESAF, a empresa do Grupo BES inicialmente escolhida para gerir os dinheiros do FICA, que viria a manifestar "fortes reservas jurídicas" ao recurso por parte do Estado a verbas do QREN para esse fim - estaria em causa a utilização de fundos europeus para uma região, Lisboa e Vale do Tejo, que já não teria direito a eles...

A actual ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, veio reconhecer já publicamente a insustentabilidade da situação e, em acordo com os demais fundadores, decidiu dispensar os serviços da ESAF e abrir concurso para a sua substituição. A confirmarem-se os prazos anunciados pelo presidente do Instituto de Cinema e do Audiovisual (ICA), José Pedro Ribeiro, nos próximos dias deverá ser transmitida à assembleia geral de participantes do FICA "uma proposta de designação da nova entidade gestora" decorrente das candidaturas entretanto recebidas, e cujo número não foi divulgado. "O FICA retomará o seu funcionamento normal com a maior urgência possível", acrescenta o responsável pelo instituto.

Projectos pelo caminho

No caminho ficou, entretanto, o rasto dos prejuízos de quantos criaram expectativas face à criação do organismo, mesmo que ele fosse visto e apreciado com sensibilidades diversas por parte dos diferentes agentes do sector. "Do FICA, não recebi até agora nem um tostão", realça Tino Navarro, que candidatou oito projectos e que, mesmo assim, concretizou as longas-metragens A Esperança Está Onde Menos Se Espera, de Joaquim Leitão, e Capitães de Areia, uma adaptação do romance homónimo de Jorge Amado realizado pela sua neta, Cecília Amado.

"O Fundo podia significar uma alteração importantíssima, e que traria à produção de cinema quase tanto como o ICA, e portanto dobraria o investimento público", diz Pedro Borges, da Midas, lamentando ainda que o FICA tenha, até agora, desbaratado dinheiro com produções que considera "de duvidoso interesse e nenhuma rentabilidade".

"O FICA veio criar uma expectativa gigantesca no sector e depois defraudou-a", lamenta, por sua vez, Rodrigo Areias, realizador e produtor radicado em Guimarães. "Pensou-se que a existência de um fundo para o cinema comercial também abriria espaço para o cinema de autor", o que não veio a verificar-se, acrescenta.

Alexandre Valente enumera também os vários projectos que tem em fila de espera, entre os quais está Variações, um biopic sobre o malogrado autor e intérprete de O corpo é que paga. Estão parados, por razões "incoerentes e incompreensíveis", lamenta o produtor de Corrupção, que, apesar de tudo, considera que "o Fundo tem tudo para funcionar desde que se encontre a entidade gestora correcta".

Já António-Pedro Vasconcelos, que começa por elogiar a decisão de Pedro Roseta de fazer incidir a contribuição para o Fundo "a toda a cadeia de valor" e a não ficar só pelas televisões generalistas, lamenta que, no momento da sua instituição, ela se tenha cingido a estes canais, "que acabam por poder decidir em proveito próprio". O realizador de A Bela e o Paparazzo defende que o FICA tem que funcionar "como um instrumento de capital de risco, constituído pelas plataformas de TV (Meo, Zon, Cabovisão, futura TDT) e que complementa o investimento que o mercado não é capaz de fazer". com Inês Nadais''


Fonte: Público

"O cinema português nunca existiu tanto e com tão pouco"


Esta notícia foi publicada ontem no site do suplemento Y do jornal Público.


"O alerta lançado por um grupo de realizadores e produtores para o estado em que se encontra o cinema português fala em calamidade pública. A realidade não anda longe

Em 2009, o cinema português foi a retrospectiva de Pedro Costa na Tate Modern e a Palma de Ouro em Cannes para uma curta-metragem de João Salaviza, Arena, mais os 929 mil euros de receita de bilheteira de Amália, o Filme, e um possível blockbuster português falado em inglês, Second Life, que acabou por não sair das salas em ombros mas ainda assim fez 90 mil espectadores (desde 2004, só sete longas-metragens de produção nacional tiveram melhor desempenho). É muito, é pouco? É o que há, com o dinheiro que há: no ano passado, o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) investiu um total de 8 milhões de euros no apoio à criação e à produção cinematográfica. São cinco milhões a menos do que o dinheiro disponível em 2000 e 7,5 milhões a menos do que em 2001. Agora já sabemos do que falamos quando falamos da "catástrofe iminente" do cinema português - uma declaração de calamidade pública que levou mais de 2300 pessoas, encabeçadas por Manoel de Oliveira, a exigirem, no Manifesto pelo Cinema Português de há duas semanas e meia, "uma intervenção de emergência" da ministra da Cultura.

Como é que se vive, afinal, do cinema português? "Vivemos mais para o cinema do que propriamente do cinema", resume Rodrigo Areias, 31 anos, com um historial de produção repartido entre Periferia Filmes, que fundou com João Trabulo, e o Bando à Parte, um colectivo do Porto. Está a filmar pela primeira vez com dinheiros do ICA - recebeu um apoio de 42 mil euros -, depois de ter feito uma longa, Tebas, e uma curta multipremiada, Corrente, sem financiamento público: "É possível fazer filmes em Portugal sem apoio do Estado, claro - mas tens de ter um gang contigo a alinhar nessa maluquice. Os técnicos e os actores do Corrente não receberam um chavo. Não dá para fazer a coisa assim a vida inteira."

E no entanto tem sido essa a vida inteira recente do cinema português - mesmo produtoras sólidas, como a MGN Filmes de Tino Navarro ou a Filmes do Tejo de Maria João Mayer, admitem que o sector está perto da ruptura. "Em 20 e tal anos nunca deixámos de cumprir um único compromisso. Mas não dá para grandes aventuras, como é óbvio. E a situação agravou-se muito com a diminuição dos apoios à produção, num país em que ainda não há condições para o autofinanciamento da actividade cinematográfica. Há produtoras mais conservadoras que conseguem resistir, mas muitas estarão a perguntar seriamente se devem fechar a porta", sublinha Tino Navarro. Luís Urbano, cuja O Som e a Fúria produziu um dos casos mais singulares do cinema português dos últimos anos, Aquele Querido Mês de Agosto (mais de 20 mil espectadores em Portugal, e uma carreira internacional que podemos considerar exuberante: só numa semana, fez mais de 4000 espectadores na Argentina), por exemplo: "Em 2009 não ganhámos nenhum apoio e por isso este ano não vamos produzir nada. Essa interrupção pode ser fatal para nós - e estamos a falar de uma das produtoras mais bem-sucedidas, o que dá para ter uma ideia da fragilidade de tudo isto." Também a Stopline, de Leonel Vieira, se viu impedida de fazer filmes no ano passado: "A produção está de facto paralisada", diz o realizador.

Mesmo quando há apoios do ICA e, portanto, dinheiro para remunerar a mão-de-obra envolvida, o cinema é uma actividade particularmente mal paga, sublinha Pedro Borges, da Midas Filmes, um dos primeiros subscritores do manifesto: "Nesse sentido, todos os filmes sérios são em grande parte autofinanciados. São feitos com montantes baixíssimos para o que deviam custar e para o que se gasta noutros países, e as pessoas ganham muito mal. Não é saudável." A estagnação dos financiamentos do ICA provocou um claro "empobrecimento" do sector, acrescenta Maria João Mayer: "Produzir filmes é economicamente catastrófico."

"Matar no ovo uma geração"
Em Portugal, o cinema é um tecido precário composto sobretudo por microempresas - mas que em 2005, segundo dados do estudo O Sector Cultural e Criativo em Portugal, encomenda do Ministério da Cultura à Augusto Mateus & Associados, empregava 6020 trabalhadores e representava 4,5 por cento da riqueza gerada em Portugal pelo sector (165 milhões de euros). Podíamos fazer muito mais e muito melhor, insiste Pedro Borges: "Há cada vez mais pessoas a querer fazer filmes e cada vez se apoiam menos filmes. Estamos a matar "no ovo", como se costuma dizer, toda uma nova geração."

O problema é estrutural e tem a ver com a gritante insuficiência do mercado português - somos um país pequeno e só vamos 1,6 vezes por ano ao cinema, quando a média europeia é de 2,3 vezes -, com o desinteresse dos privados pelo cinema de produção nacional (Pedro Borges diz que faz falta uma verdadeira Lei do Mecenato, António Ferreira, da ZEDFilmes, e Leonel Vieira dizem que é preciso copiar o modelo brasileiro de incentivos fiscais) e com a má relação entre o cinema português e os espectadores. "A quota de mercado do cinema nacional é de dois por cento. É irrisório. A média europeia é de 23 por cento. Se estivéssemos na média, tínhamos quatro milhões de espectadores e 20 milhões de euros de receitas de bilheteira", aponta Tino Navarro. Seria todo um outro filme, concordam os restantes produtores ouvidos pelo PÚBLICO.

Apesar de tudo, 2009 não foi um ano para esquecer: mesmo tendo tido de desistir, "por causa da paralisia do Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual [FICA]" (ver caixa), de um projecto em 3D, a MGN Filmes conseguiu manter a sua média de produção (um filme a um filme e meio por ano) e, em Coimbra, a produtora de António Ferreira teve "até um ano bastante produtivo" (duas longas, um documentário, três curtas), em parte graças a sinergias com o estrangeiro. "Estamos cada vez mais a fazer co-produções com outros países porque a estagnação financeira sente-se muito mais em Portugal. Aqui nunca houve muito dinheiro para fazer cinema - e o que há está mal distribuído", diz o realizador, cuja recente segunda longa-metragem, Embargo, foi "viabilizada fora de Portugal".

Publicidade e videoclips
Para sobreviver - sobretudo em Coimbra, na periferia do cinema português -, a ZEDFilmes teve de diversificar a sua área de negócios e ir também à publicidade e aos videoclips, que representam actualmente 50 por cento da sua produção. É esse jogo de cintura que lhe tem permitido manter uma equipa fixa de sete pessoas - e gerar dinheiro para fazer filmes não subsidiados: "Quando conseguimos o financiamento para o documentário Futebol de Causas, já estávamos há meses a filmar. É avançando por nossa conta que temos conseguido continuar a produzir. Mas sempre com muito aperto financeiro."

A Stopline também optou pela diversificação: "Estamos a produzir séries de televisão e filmes publicitários. Estrategicamente, desde que criámos a empresa quisemos estar presentes nas três áreas - até porque em Portugal seria impossível viver só de cinema. A Stopline só tem alguma estabilidade porque a publicidade é um sector forte da facturação", diz Leonel Vieira". No cinema, Brasil e Espanha têm sido parceiros estratégicos; é "o único caminho viável" para quem não quer "passar a vida a contar histórias só à medida do dinheiro que existe em Portugal", e das audiências portuguesas. Uma das próximas produções da Stopline é, de resto, a adaptação cinematográfica de Budapeste, o romance de Chico Buarque.

Fora de Lisboa, a Bando à Parte vai mantendo, com a produção de videoclips e habilidosas montagens financeiras com o estrangeiro (Brasil e Finlândia, por exemplo), uma actividade regular. "Mas estamos todos permanentemente em risco de passar a ir vender sapatos para o centro comercial. Infelizmente, somos uma espécie em vias de extinção", diz Rodrigo Areias. Ou pelo menos uma espécie na gaveta: na da Midas, por exemplo, estão neste momento projectos como o cinco-em-um Histórias de Amor (cinco contos de José Cardoso Pires realizados por Fernando Lopes, Fonseca e Costa, Joaquim Leitão, Margarida Cardoso e Cláudia Clemente), a série de três episódios para televisão que devia acompanhar a próxima longa de João Canijo, Sangue do Meu Sangue, e Com a Roupa do Corpo, documentário de Helena Matos sobre os retornados. Na da Filmes do Tejo, há uma longa de Inês de Medeiros que espera há dois anos por financiamento e um projecto de adaptação de um romance de José Eduardo Agualusa.

Não sabemos se, nem quando, os iremos ver. É portanto aqui que está pelo menos uma parte do cinema português: corremos o risco de ficar sem ele."


Fonte: Ipsilon, suplemento do Público

FICA paralisado por falta de financiamento- " Apoios ao cinema estão paralisados há um ano.Estado não cumpre,ninguém cumpre"


Governo tentou usar fundo do QREN para financiar FICA e não conseguiu. Ministra da Cultura fala de "paralisia insustentável"


O Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual (FICA), constituído em 2007, está paralisado quase desde que nasceu, depois de o Estado ter deixado de cumprir as obrigações de financiamento meses após o lançamento do fundo. Esta "paralisia" é confirmada pelo sector e pela própria ministra da Cultura, em carta enviada agora aos produtores.

Tino Navarro, presidente da Associação de Produtores de Cinema, também confirmou ao i a situação. "O FICA nasceu no Verão de 2007 e devia ter contribuições públicas e privadas todos os trimestres. O Estado falhou logo no último trimestre de 2007", explicou. "Em 2008 e 2009 continuou sem cumprir os seus compromissos e os parceiros privados do FICA aproveitaram para fugir às suas responsabilidades também", diz. Em causa a Zon, TVI, SIC e RTP, que estão envolvidas no projecto, já que o Meo e a Cabovisão, plataformas de conteúdos, continuam sem pertencer ao fundo. No total, esta entidade de apoio ao cinema deveria contribuir com 16 milhões de euros por ano para a produção de cinema e audiovisual. Em três anos, apenas distribuiu cerca de seis milhões. E com atraso.

Na carta a que o i teve acesso, a ministra reconhece "um conjunto de dificuldades, de diversa natureza, que têm vindo a dificultar o funcionamento [do FICA]", problemas esses que durante o ano passado fizeram "persistir o impasse, arrastando o FICA para uma paralisia insustentável", diz. No campo dos porquês, a história ganha mais contornos.

Na carta, Canavilhas começa por apontar o dedo "a demoras verificadas na aprovação dos regulamentos nacionais e da UE". O governo, já em 2009, optou por recorrer ao Quando de Referência Estratégica Nacional (QREN) para cumprir com a sua parte no financiamento do FICA dos anos de 2007 e 2008. "O Estado nunca definiu de onde vinha a parte que tinha que financiar", criticou por seu turno o realizador António-Pedro Vasconcelos. Mas o recurso ao QREN não solucionou nada. Isto porque, e ainda segundo a carta da ministra, a entidade gestora deste fundo, a ESAF, do grupo Espírito Santo, levantou "reservas jurídicas" à utilização do QREN - por considerar que não se destinava a financiar o cinema. Esta interpretação é criticada por Tino Navarro, que aponta o exemplo espanhol, onde os dinheiros do QREN são usados para financiar a produção de cinema. Já o BES, contactado pelo i, optou por não comentar. Todas estas "reservas jurídicas", fizeram com que o impasse permanecesse. Resultado: em Fevereiro, Canavilhas iniciou "um procedimento de substituição da entidade gestora", que agora decorre. "Isto é insustentável", critica Tino Navarro que, contudo, enaltece a atitude de Gabriela Canavilhas. "Pela primeira vez em 20 anos vejo alguém que tem a dignidade de dar a cara", diz, desejando que se passe das palavras aos actos."

Fonte: Jornal i

Orçamento de Estado:Cinema português deixado para trás


“O cinema português vive hoje uma situação de catástrofe iminente e necessita de uma intervenção de emergência por parte dos poderes públicos e em particular da senhora Ministra da Cultura. O cinema português – o seu Instituto – ao contrário do que é repetido vezes sem conta, é financiado por uma taxa (3,2%) sobre a publicidade na televisão, e não pelo Orçamento de Estado. O financiamento do cinema português desceu na última década mais de 30% e a produção de filmes, documentários e curtas-metragens, não tem parado de diminuir. O Fundo de Investimento no cinema, que era suposto trazer à produção 80 milhões de euros em cinco anos, está paralisado e manietado pelos canais de televisão e a Zon Lusomundo, e não só não investiu quase nada, como muito do pouco que investiu foi-o em coisas sem sentido.”

Devido ao panorama actual do cinema português, um grupo de pessoas da área resolveram criar uma petição.Os realizadores Manoel de Oliveira, Fernando Lopes, Paulo Rocha, Alberto Seixas Santos, Jorge Silva Melo, João Botelho, Pedro Costa, João Canijo, Teresa Villaverde, Margarida Cardoso, Bruno de Almeida, Catarina Alves Costa e João Salaviza e os produtores Maria João Mayer (Filmes do Tejo), Abel Ribeiro Chaves (OPTEC), Alexandre Oliveira (Ar de Filmes), Joana Ferreira (C.R.I.M.), João Figueiras (Black Maria), João Matos (Terratreme), João Trabulo (Periferia Filmes) e Pedro Borges (Midas Filmes) foram então os responsáveis pelo documento.

Fica aqui a petição, elaborada por estes realizadores e produtores, e que tem circulado na internet.


Fonte: arastao.org
 
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